23 abril 2014

thom gunn / o mensageiro



Transforma-se este homem num anjo quando fixa
Uma flor vermelha cujo nome ele desconhece.
        A face de veludo, os cabelos de pontas negras?

Os seus olhos dilataram-se como os de um gato à noite.
Os seus lábios entreabrem-se mas não fala
        Daquilo que vê e que assim o completa.

O seu corpo prepara-se para imitar a flor,
Ajoelhando-se e enterrando os dedos dos pés no solo,
        A origem crua, granulosa e acre.

A sua quietude responde como um espelho,
O da flor; ela é a serenidade da chama em botão
        Que abriga dentro de si a plenitude da erva.

Mais tarde as notícias, para se ramificarem de sentido em sentido,
Trazendo as suas versões da flor numa pequena
        Aparência exterior até à sua compreensão.

Entretanto, silencioso e expandindo-se como uma chama,
Ele inclina-se contemplando apenas o exterior:
        Caule firme e rosto sem nome.





thom gunn
a destruição do nada e outros poemas
trad. maria de lurdes guimarães
relógio d´água
1993



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