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07 agosto 2023

antónio gancho / o arco-da-velha

 




 
O Arco-da-Velha possui as cores da bandeira portuguesa
e isso é porque tu tens a certeza? e isso é porque tu tens a certeza?
mas no entanto já toda a gente sabe que também o Arco-da-Velha
contém as cores da bandeira portuguesa
vermelho por baixo e o verde por cima.
No entanto se enquanto quanto
mais prima mais se lhe arrima
é porque qual a razão do Arco-da-Velha falta então
a loucura de todo o Céu feito diabrura.
É ou não é meus amigos
e prossigo-vos que
sem os trigos da seara nada se faz que mara mais de o ver
antes este Arco-da-Velha depois
se depois então deste nascer o Arco-Íris depois de nascer.
 
 
 
antónio gancho
o ar da manhã
gaio do espírito (dez. 85 / Fev. 86 )
assírio & alvim
1995




19 abril 2021

antónio gancho / terceira voz

  
Enquanto a gaita toca e o quintal da vizinha
tem uma Idade Média pendurada no chão
vagueia estonteada a minha alma a minha
por sobre a minha o coração de avião
 
De avião o coração por sobre a alma minha
imagem de fomento e organização
a que o tempo levou a solidão vizinha
do quintal da vizinha onde a gaita uma canção
 
 
 
 
antónio gancho
o ar da manhã
1960 / 1967
o ar da manhã
assírio & alvim
1995






17 julho 2019

antónio gancho / amor, entre a vida e a morte



AMOR, ENTRE a vida e a morte
escolhe à nossa sorte
ou o amor ou a loucura
escolhe a morte escolhe a vida
escolhe o beijo com ternura
amor, a vida não dura
a vida não dura, amor
e a ternura não sabe
mas cabe a ti dizer
o que é loucura até morrer
é a morte é a vida
é o beijo até morrer




antónio gancho
poemas digitais
jun. / jul. 89
o ar da manhã
assírio & alvim
1995







02 agosto 2017

antónio gancho / poésie




Esta manhã em que o Sol observa a Terra
o poema nasce feliz e é devidamente adorado
Nasce o Sol e nasce o poema
e com essa simultaneidade
quer o poeta significar que a sua arte é luz
Esta manhã o poema nasce no ventre do papel
e nasce o Sol no horizonte do papel




antónio gancho
o ar da manhã
assírio & alvim
1995





08 setembro 2016

antónio gancho / de há vinte anos para cá



De há vinte anos para cá
já eu estou transformado noutra coisa.
A loisa de preta para branca
quando o visitante lá descansa a anca
sobre ela
parece que de repente se há uma janela
em frente
tudo se some à janela.
Assim como ela a loisa
nunca poisa
numa mesma posição
assim como já dissemos
ou é preta ou branca não
assim também eu poeta
de há vinte anos para cá a esta parte
não está na mesma arte.
Que há muita coisa a prever
além da loisa
a arte de escrever.



antónio gancho
o ar da manhã
assírio & alvim
1995



28 setembro 2015

antónio gancho / a estrada



A estrada cumprimentava de vivas a manhã
abria-se a claridade do dia
a noção era consequência de uma ave marinha
não se esquece as coisas que o coração compõe
com igualdade diária
por a estrada por onde nós viajamos há sinais
de brilho
uma nave inunda o sentimento do corpo
para que tudo nos seja dimanado do
anúncio do tédio
Quanto tempo passou que nós estamos à
espera que tudo nos seja propício para
que a razão alimente o vício do ar e do
céu azul
tudo por nós era uma recordação heterogénea
aqui um sinal grave
se era uma papoila abria-se o mar à nossa frente
a nostalgia duma pálpebra aberta no silêncio da noite
por nós o que o tempo lamentava de sonoramente vivido
o que de nós esperou a terna manhã
cumprida como um jamais não haver minutos
o que em nós havia de tudo estar à espera
de que se abrisse um sinal para reflectir
tudo o que havia de solícito era dado por um
não haver mais grandiloquência no que se fosse contar
estar antes era estar à espera de que tudo acontecesse
secretamente para que nada mais houvesse de imanente no fundo
ah é dizer que o tempo não esconde um prurido de que tu
também fosses igual
a estrada andante é caminhar
nós vamos tu és uma noção grande e enorme do vento
perguntas pelo tédio e não há nada igual a isso
por onde caminhar é a pergunta aberta
somos o que fomos sempre
iguais à hora ao minuto
tu comandavas eu ficava era eterno
como o destino de te ver caminhar
uma asa afastava uma intenção
era grave a hora para que tivéssemos para contar
o que fosse de extraordinariamente movido
não se indica mais nada
uma mão aberta fala uma linguagem austera.


antónio gancho
o ar da manhã
assírio & alvim
1995





14 abril 2015

antónio gancho / prisão




Tu tinhas uma nascença que era uma prisão
uma certeza de estar concreto e unido
com a matéria de pedra
Que era uma tua sedimentação de vida
uma tua construção de movimentos a sair das grades
Era rico em Sol o teu peito de grades
concreto e unido sedimentavas dias de espera
duma letra que te abrisse os instintos para
falares de nada.
Era uma certeza de tu estares unido como uma raiz de mesa própria
uma certeza de estares virado para um
nascente de inconcretidade material
tinhas uma mão de peça de artilharia
de disparares para fora o conteúdo dos dias com
raiz de mesa própria
Eras um sol a nascer-te no sítio da grade
onde se punham ramos de quinta-feira de campo.
Tinhas uma natureza de estares sentado
Sobre uma cadeira que era a tua
esperança de estares unido com a nascença do movimento.
Tinhas um cantarem-te os cabelos no dia de dentro
um ser-te uma mágica a fusão de
olhar com a dimensão de esperança fora.
Eras-te igual à matéria da tua animação de selva
íntima
igual ao cantar-te seródio o tempo de pendular
na cabeça
Conhecias uma esperança de cortares os cabelos com uma
navalha de vento
mas era tua inspiração de um modo interior de vida.
Criavas um espaço aberto na clareira duma grade
que era um espaço celeste a cobrir de grego o cimento
Tu tinhas uma invenção de disparares saúde de dias
por fora da mão
Tu tinhas uma sensação absoluta de estares aberto com o espaço
duma grade
tinhas um ser-te grave o olhar para fora do dia
inaugurado de verde
Que se te abrisse a letra
era desejo de teres fonemas no nada de uma mão aberta
sem um rogar de branco.
O sol aberto em sentido de alusão a uma palavra de ti
era nada de o poente estar no sentido inverso.


antónio gancho
o ar da manhã
assírio & alvim
1995




28 abril 2014

antónio gancho / artéria, tu tens razão



A única coisa que eu aprendi meu Deus
a sofrer a desilusão duma passagem de rua
ficar com o lado esquerdo a ajudar a falar
mas a única coisa que eu aprendi

Que um bocado de vidro inundasse de luz uma artéria
eu era um bocado de vidro que não inundasse de luz
artéria nenhuma
era uma desilusão a olhar para mim
e dizer movimento de rua
é assim movimento de rua
aí está nós cá estamos nós somos tal e qual
uma desilusão em passagem.

Tinha era ainda mais que tudo isso
um inchaço dum vidro em bocado
espetado em cima de pedra.

Havia um estendal de desilusão a devorar-me
todo com os olhos
eu era uma continuação do meu ser.
Onde um simulacro estava a vantagem
de uma desilusão.
Eu não
eu cá.
Que um cá estamos considerasse ou não
eu não tinha nada com isso

Eu fum, eu...
Ah,
Havia é que era eu cá estamos nada disso
eu cá não eu nada eu não tinha eu não tenho
tu quê
nós consideramos.
Onde punha fum
tudo por dentro era duma urania
tudo por dentro era duma constipação palpável
pelo sentido da pedra e do bocado de vidro.
Não eu cá não vou.

Quem olha descontenta.



antónio gancho
o ar da manhã
assírio & alvim
1995




25 outubro 2013

antónio gancho / amour


      
Para que os teus dois seios sejam duas pombas brancas
e eu seja para ti o dono do pombal
para que o teu pombal seja nas tuas ancas
e eu o teu senhor matinal

Para que te a manhã te seja nos teus seios
e as tuas pombas brancas fiquem da cor de mulher
para que as tuas ancas já sejam as tuas ancas
e o teu pombal uma metáfora qualquer

Para que te eu o grão de todas as manhãs
de todas as manhãs a te distribuir
para que as tuas pombas voem do pombal
e todas as manhãs assim me distrair

Para que os teus dois seios as tuas pombas brancas
que o teu senhor há-de afagar
por ti e sobre ti e sobre as tuas ancas
o teu senhor te há-de amar.


antónio gancho
o ar da manhã
assírio & alvim
1995



02 setembro 2013

antónio gancho / sobre uma manhã qualquer




Manhã de ouro lhe poderíamos chamar se de ouro fora a primeira manhã
Adão inconfessado, e nada saberemos da primeira manhã
se afinal de ouro se afinal de prata.
Ainda possível ter sido de estanho?
A primeira manhã assim imaginada estanho e a cena desenrolar-se-á
com maçãs de estanho, aves de estanho, rios de estanho...
Adão não seria de estanho?
Adão inconfessado, e nada se saberá da manhã original.
A primeira manhã, a primeira luz, a primeira vida, a primeira lua
Tu, querida, o desejarias saber, o sei,
era teu desejo saber de que metal fora a primeira manhã!
Evidentemente que (e aqui sente-se já um cansaço a obcecar a caneta)
evidentemente que dizia
etc., etc.
e a respeito da primeira manhã afinal
que não interessa sabê-lo.

Olha, morre como o cigano, o pior é ires à escola.

Ah, os poetas são decididamente afectados.
Que raio de ideia esta de saber da primeira manhã?
Londrina a de hoje, e basta para tomar um excelente duche quente
com a água a pôr fervura na pele
e mais nada.

Da primeira manhã. Adão que se faça poeta e no-lo diga que metal



antónio gancho
o ar da manhã
assírio & alvim
1995



21 novembro 2012

antónio gancho / sintaxe




Aonde a planície já não tiver um sentido
e os campos forem já só o horizonte
aí o teu vestido há-de ser cor esmaecido
e sobre ti a minha fronte.
Por te sobre os joelhos uma flor rubra
por te no lugar das pernas o mais amor que me houver
aí onde a flor deixa o pólen
aí o sémen mulher.
Por te sobre o sémen o gemido do teu acto
por te sobre o gemido
a planície sem sentido
aí o teu vestido há-de ser cor esmaecido
por te sobre as pernas me dilato.




antónio gancho
o ar da manhã
assírio & alvim
1995




28 agosto 2012

antónio gancho / ilustrazione






Faço um poema e nasce uma cidade
invento o conteúdo geográfico das coisas.
Escrevo um nome e nasce Dublin
porque Dublin escrevi.
Se onde ponho um traço nasce uma via de ferro
então é um comboio em direcção a Roma.
Faço uma cidade e vejo-me um neón
ponho um anúncio e nasce uma cigaretta.
O italiano compõe o soar da palavra
eu dou uma entoação ao segredo do fim
Se há um horizonte para divulgar o Sol
há uma expectação para divulgar o coração
Se há um moinho para os lados de Perpignan
há Daudet a repousar o Sol numa cadeira
Se há Avignon, uma festa, a França, a Península Itálica,
Burgos e todas as catedrais espanholas
há uma cidade cheia de Sol a compor a direcção
Se o mar fica no fim
Lisboa fica ao pé de Lisboa fica súbito
como se o Tejo fosse um braço decepado
e um cacilheiro total o pano de uma bandeira
Pensa-se no rumor tribal que inunda todas as ruas
faz-se um boulevard duma avenida nossa
põe-se Lautéamont a inventar um prédio.
Há a loucura a inundar a parede
o relógio que
se primeiro bateu na cabeça de Poe
bate depois no sangue feito do conto
divulgado no livro
Lê-se o fígado do poeta no álcool derramado
sobre o desmaio de Ligeia
se esta tem as mãos ebúrneas nasce âmbar
nas mãos brancas duma conceição tripartida.
Ah, se onde ponho a imaginação nasce um lírio
derramem-me a história duma amante sobre a cabeça
pois sou o amante duma perversão absoluta.
Não rasgues o sentido do ombro aí onde tens o tatu do destino
e aí onde só a virgindade do teu androceu malino
pode faltar a dimensão do totem a inundar de carácter
todo o céu africano.
Ah, nasça-me um árabe de luz com seu corpo moreno
contradizendo a logica
nasça-lhe uma idade de rosto sua idade gidiana
para compor a tenda com precaução indefinida.
Reveja-se o jeep inglês de Lawrence
que inundava o deserto duma celtidade absoluta,
o zénite solar sobre o bico da tenda.
Só a imagem dum rio pode dar ao poema
toda esta noção geográfica que o poema não tem.
Bramaputtra
se nasceres no papel vou dizer à ondina do gnomo
que a floresta não constrói.
Ponho uma fonte a cantar na cabeça do gnomo
e o gnomo surge e nasce
como o ícone divulgado.
É rica a mitologia germana
para dar um sentido ao godo que de chifres na cabeça
usa um segredo quotidiano pendular
que é o pulso esquerdo da fêmea.
Põe-se-lhe a data
e o poema nasce
rubicundo
como a ponta de um lápis
que escrevesse no registo
o nome macho dum bebé.
I achieve
I finalize
eu acabo
eu finalizo.
É o poema terminado.





antónio gancho
o ar da manhã
assírio & alvim
1995



22 setembro 2010

antónio gancho / mostras-me o fim do mundo






*


MOSTRAS-ME O FIM do mundo
o Inferno de Dante
onde o Diabo nos arde na sua fogueira
com os demónios todos juntos
mesmo assim quero ir contigo
vou contigo para o fim do mundo
para o fim da Terra
para o Céu ou o Inferno
vou contigo para a fogueira do Inferno
lá quero-me arder contigo
e ardemos os dois
ao mesmo tempo trespassados pela faca do amor.




antónio gancho
poemas digitais
jun. / jul. 89
o ar da manhã
assírio & alvim
1995





12 janeiro 2010

antónio gancho / música







A música vinha duma mansidão de consciência
era como que uma cadeira sentada sem
um não falar de coisa alguma com a palavra por baixo
nada faria prever que o vento fosse de azul para cima
e que a pose uma nostalgia de movimento deambulante
era-se como se tudo por cima duma vontade de fazer uma asa
nós não movimentamos o espaço mas a vida erege a cifra
constrói por dentro um vocábulo sem se saber
como o que será
era um sinal que vinha duma atmosfera simplificante
silêncio como um pássaro caído a falar do comprimento.







antónio gancho
o ar da manhã
assírio & alvim
1995





25 junho 2008

abertura







Eu abria o rádio
eu abria o aparelho
era uma flor branca que eu abria
de sopro
eu soprava e eu abria a flor
A flor tocava música com as várias mãos
das pétalas
A flor tocava uma simbolização dum tempo
caído podre de espera de cor branca
O tempo espera-se em pintar-se
de branco
para cegar uma cor
mas a minha flor abria-se de
pétalas
e as várias mãos escreviam um
piano por cima de teclas grãos vários
seguidos uns aos outros.
Era assim uma harmonia
entre flor
tempo a querer-se de cor branca em cegar
era assim umas teclas cantarem filhos de grãos
por dentro dos grãos mesmos
unidos que eram em dimensão de lado
era assim um cantar-me o tempo todo
não era assim um cantar-me o tempo todo
era assim um pairar-me
o tempo todo em Nijinsky
o tempo em um fazer-me ballet pelo quarto inteiro
quando eu tinha aberta a cabeça que imagino
da música
Abria a pétala favorita do harém
onde no centro um sultão da flor
no centro que era o amarelo da flor
abria a pétala favorita da flor
e então
e era então que me soava dentro da manhã
do quarto
uma música desfibrada de tempo serôdio
como se tudo me fosse em longe
como se a música levasse longe
o céu.




antónio gancho
o ar da manhã
assírio & Alvim
1995





07 fevereiro 2008

homossem









A noite vinha com umas mãos curvas de milagre
eram mãos tuas eram mãos minhas curvas de milagre
tu eras um holofote azul de dirigires alucinações
de prazer cor-de-rosa
tu eras uma flutuação constante de penumbra e surpresa
era um corpo de admiração e sublime
eras garbo da tua idade já nocturna para o pecado
tinhas uma mão que fazia regressar o espaço
por onde puxavas o amor
eras um corpo suave de admiração e sublime
um requinte de trazeres intenções pelo fato
tinhas um casaco especial de convidar uma visita
uma surpresa emancipava-te a vontade do queixo
não esqueço uma tua boca de construção de virtudes
porque beijavas onde o símbolo requeria
havia-te casa pelo convite da mão
eu sabia que a tua palma tinha um rio que fazia estalar
o medo
era a sedução de tu meditares longamente sobre quem te fosse
mais próximo
e nascia um horizonte duma maneira do teu olhar
Fazias o espaço ser-te magia de convite
convidavas uma semente de ir lá
porque não se falava no que se ia saber
nós tínhamos um conforto de destino próximo e azul
que era a manhã de tu fazeres desaparecer o medo do rio
Não íamos quebrar fauna pelos bosques
íamos sair ao concreto do tempo
por onde tu erigisses catedrais de
inauguração sentimental
Era um amor que tinhas
era inauguração dum desejo
o medo do rio que tinha uma manhã por dentro
era tudo tão diferente e admirado de nós
a maneira das coisas nos olharem por cima do dia
como o que fosse diferente de imaginar
Nada acontecia
Tu eras um holofote azul de construíres
alucinações de meio-dia cor-de-rosa.














antónio gancho
o ar da manhã
assírio & Alvim
1995