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19 fevereiro 2015

jorge gomes miranda / elogio da lembrança



Quando os desesperos nocturnos
pouco a pouco se amontoam em pânicos matinais
lembra.
O tempo em que, depois das aulas,
ias à janela e batias o apagador...
ficava sempre a marca de giz
na parede escura.

Quando aos fins de semana vais de carro ao campo,
a camisa imaculada, o olhar fatigado de vigiar as crianças,
lembra.
As longas caminhadas pelo monte,
o último encontro de futebol, findo o secundário,
a roupa amarrotada debaixo de uma pedra.

Quando já atravessas para o outro lado da rua
para não teres que falar com ninguém,
com pressa de chegar à casa que compraste
(estás a pagá-la todos os meses e um dia, dizem, será tua)
lembra.
O tempo em que ao cruzares com um polícia
dizias: «bom dia, minha senhora».

Lembra o rosto dos ausentes.
E essa palavra lançada ao rio pelo amigo.

Não olhes com sobranceria
o tempo em que à janela procuravas
responder e nunca o conseguias, à pergunta: «o que há entre
a escuridão lá fora e a minha alma aqui?»
Lembra.



jorge gomes miranda
curtas-metragens
relógio d'água
2002







04 dezembro 2009

jorge gomes miranda / o que nos protege






Às vezes tenho medo de esquecer tudo:
a casa onde nasci, o recreio
da escola, essas vozes
que lembram um copo de água
no verão.







jorge gomes miranda
o que nos protege
pedra formosa
1995








02 outubro 2007

mudemos de casa; porque é preciso





Mudemos de casa; porque é preciso
arrumar as dores de outra maneira,
certificarmo-nos da existência do corpo
em novos lençóis, voltar a ter ilusões,
lugar propício para a curiosidade
de alguns que nos fazem acreditar
que a vida é um amplo anfiteatro
para as mãos.








jorge gomes miranda
portadas abertas
anos 90 e agora
edições quasi
2001