Somos um areal imenso e uma gota de orvalho no mar Uma terra gretada e insubmissa onde os cardos florescem E uma triste, suavíssima razão de névoa ou de soluço. Perdemos o presente cada dia povoando outros dias. Que o futuro deslumbra! É um povo sem fim e uma triste, suavíssima razão de pele e de penumbra. maria alberta menéres o robot sensível, 1961 poesia completa porto editora 2020
XXI Adora a flor das árvores, adora toda a vaidade que das coisas vem. Por ela nos traímos e vencemos, e em cada hora de traição esquecemos a dor de fruto que essa flor contém. maria alberta menéres cântico de barro 1954 poesia completa porto editora 2020
Hoje a tristeza é outra e dela falo com a minha língua de ar. Em tudo existe uma polida lágrima embrulhada em papel deslumbrado de outras mágoas. Algo me diz que nada se transmite da paixão à mais lenta compaixão, dos dedos aos enredosda
prudência à tão pura imprudência passeando no peito que um feroz acolhimento para ela em seus ócios inventou. Porque a tristeza é outra e dela falo hoje por ser diferente e triste ser. maria alberta menéres o jogo dos silêncios 1996 poesia completa porto editora 2020
Aqui posso medir tudo o que digo pelo eco em montanhas indomáveis: toco a crosta da terra e de repente logo um som me anuncia em claridade. Ouvir fica para lá de qualquer voz junto à fonte mais triste onde se guarde uma pequena lágrima que esqueça o que de mim se lembra em tenra idade maria alberta menéres o jogo dos silêncios poesia completa porto editora 2020
XLIII Quando o sol não vier nesse dia diferente do que sei, quando tudo o que traz a madrugada for tão sincero e extenso como esta areia fria, farei então, da bruma e do silêncio, todas as mãos que me faltam, e nelas repousarei! maria alberta menéres meditação poesia completa porto editora 2020