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09 setembro 2023

maria alberta menéres / somos um areal imenso

 


 
Somos um areal imenso
e uma gota de orvalho no mar
 
Uma terra gretada e insubmissa
onde os cardos florescem
 
E uma triste, suavíssima razão
de névoa ou de soluço.
 
Perdemos o presente cada dia
povoando outros dias.
 
Que o futuro deslumbra!
É um povo sem fim
 
e uma triste, suavíssima razão
de pele e de penumbra.
 
 
 
maria alberta menéres
o robot sensível, 1961
poesia completa
porto editora
2020
 




12 maio 2022

maria alberta menéres / pelo amor saberemos de nós

 
 
XXI
Adora a flor das árvores, adora
toda a vaidade que das coisas vem.
 
Por ela nos traímos e vencemos,
e em cada hora de traição esquecemos
a dor de fruto que essa flor contém.
 
 
maria alberta menéres
cântico de barro 1954
poesia completa
porto editora
2020




26 março 2022

maria alberta menéres / hoje a tristeza é outra e dela falo

 
 
Hoje a tristeza é outra e dela falo
com a minha língua de ar. Em tudo existe
uma polida lágrima embrulhada
em papel deslumbrado de outras mágoas.
Algo me diz que nada se transmite
da paixão à mais lenta compaixão,
dos dedos aos enredos   da prudência
à tão pura imprudência passeando
no peito que um feroz acolhimento
para ela em seus ócios inventou.
Porque a tristeza é outra e dela falo
hoje por ser diferente e triste ser.
 
 
 
maria alberta menéres
o jogo dos silêncios 1996
poesia completa
porto editora
2020




 

17 julho 2021

maria alberta menéres / aqui posso medir tudo o que digo

 
 
Aqui posso medir tudo o que digo
pelo eco em montanhas indomáveis:
toco a crosta da terra e de repente
logo um som me anuncia em claridade.
Ouvir fica para lá de qualquer voz
junto à fonte mais triste onde se guarde
uma pequena lágrima que esqueça
o que de mim se lembra em tenra idade
 
 
 
maria alberta menéres
o jogo dos silêncios
poesia completa
porto editora
2020
 




16 junho 2021

maria alberta menéres / quando o sol não vier

 
 
XLIII
 
Quando o sol não vier
nesse dia diferente do que sei,
quando tudo o que traz a madrugada
for tão sincero e extenso
como esta areia fria,
farei então, da bruma e do silêncio,
todas as mãos que me faltam,
 
 
e nelas repousarei!
 
 
 
maria alberta menéres
meditação
poesia completa
porto editora
2020

 



12 abril 2014

maria alberta menéres / queria dizer-te



Queria dizer-te que não sei
que há qualquer coisa
talvez desperdiçada  talvez não
Tu sentiste-a  disseste que era como
qualquer uma outra coisa que
esqueci
A tarde era  talvez já fosse tarde
e a noite não vinha
─  como sempre
Queria dizer-te mas não sei se agora
me saberás ouvir



maria alberta menéres
os mosquitos de suburna
1967