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18 setembro 2022

valter hugo mãe / o pássaro não esquece a canção

 
 
o pássaro não esquece a canção
 
afundá-lo no olhar
a roubar o vento
e
navegar para casa
navegar para casa
 
onde a lágrima de cristal
pousa entre as louças da cozinha
 
amar é servir para outro mundo
 
 
 
valter hugo mãe
publicação da mortalidade
poesia reunida
primeiro livro, segunda parte
caxinas, dois
assírio & alvim
2018
 




16 junho 2020

valter hugo mãe / os pobres vinham aos portões



os pobres vinham aos portões
deus mandava que lhes entregássemos
restos e laranjas mesmo que amargas

bocas de pobre
sabores de cão



valter hugo mãe
publicação da mortalidade
poesia reunida
segundo livro, primeira parte
mais bíblicos do que nunca
assírio & alvim
2018









21 janeiro 2020

valter hugo mãe / john balance está morto




vem ver-nos
tarda nada chega a primavera
e as flores que plantámos no
quintal vão florir como
símios loucos aos teus pés




valter hugo mãe
publicação da mortalidade
poesia reunida
terceiro livro
livro de maldições
assírio & alvim
2018







14 dezembro 2019

valter hugo mãe / a terra pesa os mortos avalia-os



6
atiro a cabeça ao
chão como flecha entre o
arco dos braços.
quisera tragar o mundo, passar
pela boca a rotação da terra, como
uma mãe que nascesse todos
os dias


valter hugo mãe
estou escondido na cor amarga do fim da tarde
campo das letras
2000





26 julho 2019

valter hugo mãe / as brincadeiras




brincávamos a cair nos braços
um do outro como faziam as actrizes
nos filmes com marlon brando e
suspirávamos sem saber habituar o
coração à dor

o amor um pelo outro como se a desgraça
nos servisse bem o peito todo em movimento
a vida podia durar um dia

doíam-me os braços e tu caías uma e outra vez
distante eu era um lugar abandonado
querias culpar-me por ser triste de outro modo
lento convicto culpado fui o primeiro a dizer que
amar é afeiçoar o corpo ao perigo

a minha mãe avisava valter tem cuidado
não brinques assim vais partir uma perna
vais partir a cabeça vais partir o coração
estava certa foi tudo verdade


valter hugo mãe
publicação da mortalidade
poesia reunida
segundo livro, terceira parte
pornografia erudita
assírio & alvim
2018





06 janeiro 2019

valter hugo mãe / preparei uma festa no coração




preparei uma festa no coração
as veias penduradas como
gambiarras corpo fora

pedi que viesses esperei que viesses
mas a alegria que inventei era só um
modo de ir embora



valter hugo mãe
publicação da mortalidade
poesia reunida
segundo livro, terceira parte
pornografia erudita
assírio & alvim
2018









28 março 2018

valter hugo mãe / quantas vezes te inventei ao pé das águas do lago




quantas vezes te inventei ao pé das águas do lago
e imaginei que me empurravas ladeira
abaixo para enfim
morrer de amor

sozinho lentamente
como só lentamente se deve morrer de amor



valter hugo mãe
publicação da mortalidade
poesia reunida
quarto livro
o resto da minha alegria
assírio & alvim
2018






29 dezembro 2017

valter hugo mãe / saí em êxtase para a



saí em êxtase para a
rua, estava o horizonte
vertical a entornar-me os
olhos para a lua

de que adianta ser pássaro
se não tiro os olhos do chão?



valter hugo mãe
três minutos antes de a maré encher
quasi
2000









10 julho 2017

valter hugo mãe / existe uma arritmia ténue




existe uma arritmia ténue
no coração de quem recusou
o amor de outrem, um coração
ténue que se sobrepõe ao que
já se tem


valter hugo mãe
três minutos antes de a maré encher
quasi
2000




19 setembro 2016

valter hugo mãe / fosse o corpo só meu


6
fosse o corpo só meu e uma pedra
o atingisse e abatesse.
se a chuva viesse agora pedir para nascer nos
meus olhos e as imagens e fizessem nuvens
do que desejo, descobriria uma
alma e procuraria incansável
a identidade dela.
quando morrer, pulsando na forte corrente
do vento que me vier esconder, descobrirei
uma alma e procurarei incansável
a carne dela


valter hugo mãe
estou escondido na cor amarga do fim da tarde
campo das letras
2000





28 outubro 2015

valter hugo mãe / assinalo as luzes, severa



assinalo as luzes, severa
severa saudade que chega pela boca, o
meu passado é só um verso
teu. tu dizes que recorte
a coroa ao céu e faça
da cabeça um estandarte. assassinaram-te,
sinto frio e tenho medo. vou
pelo mar dentro, o
céu a estalar.


valter hugo mãe
três minutos antes de a maré encher
quasi
2000




25 junho 2015

valter hugo mãe / tanto me faz, doido de nada



tanto me faz, doido de nada
ou doido de tudo, no pasto
do vento, os olhos magros
a recusar imagens, uma
palavra eleita pela boca, um
nome impossível de atribuir, já
deus reclamando a posse do
mundo, já eu na rama do
passado, só um fogo pálido
onde o mar se vem aquecer



valter hugo mãe
três minutos antes de a maré encher
quasi
2000



23 março 2015

valter hugo mãe / a água recorta as




a água recorta as
cabeças de forma estranha, sobre
o veludo da morte
o atrito do corpo é
seiva, dolente barca, onde
o meu dia passa


valter hugo mãe
três minutos antes de a maré encher
quasi
2000



23 fevereiro 2014

valter hugo mãe / caminham sobre a



caminham sobre a
terra rápida, e quando
morrem são anjos em
eterna muda de penas, feitas
só pássaros sem bico, engolidas
por grande morte depois de
tão pequena vida, assistem
ao céu, pasmadas numa
lentidão eterna



valter hugo mãe
a cobrição das filhas
quasi
2001



10 novembro 2012

valter hugo mãe / ainda pensamos no amor




ainda pensamos no amor
quase só atiçando no
corpo uma loucura pelo
seu próprio
coração

  

valter hugo mãe
a cobrição das filhas
quasi
2001




18 julho 2012

valter hugo mãe / os olhos encaracolados de sonho



   

caminham sobre a
terra rápida, e quando
morrem são anjos em
eterna muda de penas, feitas
só pássaros sem bico, engolidas
por grande morte depois de
tão pequena vida, assistem
ao céu, pasmadas numa
lentidão eterna




valter hugo mãe
a cobrição das filhas
quasi
2001



05 agosto 2008

valter hugo mãe / recipiente para guardar o mar






nunca sabotei a vontade de
deus, e vejo ainda
o inferno, um qualquer
poema mais difícil de coleccionar






valter hugo mãe
três minutos antes da maré encher
quasi
2000