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19 julho 2020

rainer maria rilke / os sonetos a orfeu


XXI

Canta meu coração, jardins que não conheces;
claros, fundidos em vidro, impossíveis de alcançar.
Água e rosas de Ispahan e de Chiraz, ah! tece-
-lhes louvores, cantas sua ventura, são sem par.

Mostra, meu coração, que deles não te privas.
E que pensam em ti seus figos que já adoçam.
Que tens trato co as brisas, entre os ramos, vivas,
Como se em rosto transformar-se possam.

Evita o erro de haver falhas, lacunas,
prà decisão cumprida, e essa é: existir!
Fio de seda, entraste no tecido.

Não importa a que imagem lá por dentro te unas
(instante até, numa vida de penas), vem sentir:
só o tapete inteiro e em glória faz sentido.



rainer maria rilke
elegias de duíno e os sonetos a orfeu
trad. de vasco graça moura
quetzal
2017





06 abril 2019

rainer maria rilke / e a sua voz vem de longe,




E a sua voz vem de longe,
começou antes do nascer do sol, vagueando
semanas e semanas pelas grandes florestas
e falou em sonhos com daniel
e viu o mar e fala do mar.


rainer maria rilke
o livro da pobreza e da morte
trad. ana diogo e rui caeiro
edições snob
2019











14 agosto 2018

rainer maria rilke / os sonetos a orfeu



III

Espelhos: o que sois na vossa essência,
nunca ninguém saberá explica-lo.
Como os furos do crivo, sois a ausência,
do tempo a preencher cada intervalo.

Vós, que esbanjais a sala inda deserta,
vastos como florestas, quando a noite regressa…
e o lustre, como hastes múltiplas de algum gamo alerta,
vossa água inviolável atravessa.

Tanta vez estais cheios de pinturas.
Umas em vós parecem entranhadas,
as outras afastou-as a vossa timidez.

Mas a mais bela de todas as figuras
ficará lá no fundo, até nas faces recatadas
romper claro o narciso em sua nitidez.


rainer maria rilke
elegias de duíno e os sonetos a orfeu
trad. de vasco graça moura
quetzal
2017






11 dezembro 2017

rainer maria rilke / elegias de duíno



a segunda elegia

Todo o anjo é terrível. E todavia, ai de mim,
a vós cantei, ó aves quase mortais da alma,
sabendo como sois. Onde param os dias de Tobias,
quando lá estava um dos mais radiosos, à porta simples da casa,
meio disfarçado para a virgem e já não mais aterrador;
(jovem para o jovem, ao mirar curioso para fora).
Desse o arcanjo agora, o perigoso, de detrás das estrelas,
um só passo a descer delas para cá: de tão forte sobressalto
se nos destruiria o próprio coração. Quem sois vós?

(…)

(excerto)


rainer maria rilke
elegias de duíno e os sonetos a orfeu
trad. de vasco graça moura
quetzal
2017